domingo, 27 de dezembro de 2009
Anjo - Mãe - Madalena Oliveira
Perfume do plano etéreo
Do outro lado da vida, refrigério
Desta vida de provações acertos e perdões…
Perfume do plano etéreo saudade,
Esperavas-me quando cheguei…
Percebi logo quando inalei
Teu aroma, maternal felicidade!...
Perfume do plano etéreo benesse
Qual de Anjo canto prece…
Não entrou por janela nem porta no meu espaço
Mas envolveu-o em grande e terno abraço!…
Perfume do plano etéreo benesse,
Presença do Anjo-Mãe que meu bem tece!
Madalena Oliveira
O Lindo Nome de Mãe - América de Jesus
O LINDO NOME DE MÃE
Tem beleza o sol e as estrelas,
Têm beleza as flores e as crianças,
Tem beleza o nosso amor para com elas,
Tem beleza as nossas boas esperanças.
Tem beleza o lindo nome de Mãe
Tem beleza o amor aos filhinhos,
Tem beleza os cuidados e carinhos…
Belo é o seu leite que ela lhes dá por bem…
Tem beleza o amor com que os vai criando,
Tem beleza a grande canseira que lhe vem,
Tem beleza o colo que os vai aquecendo,
Tem beleza o lindo nome de Mãe!...
Têm beleza os olhos que não os podem ver chorar
Com fome ou outros sofrimentos que vêm,
Com muito amor os vai consolar…
Tem beleza o lindo nome de Mãe!...
Tem beleza toda a grande caridade
E amor que a todos os filhos ela tem,
Tem beleza toda a sua amabilidade,
Tem beleza o lindo nome de Mãe!...
Têm beleza todos os seus beijinhos
Que nas facezinhas lhes depõe…
Têm beleza os ardentes miminhos...
Tem beleza o lindo nome de Mãe!...
América de Jesus
...ficarmos orfãos - Ana Oliveira
quando foste
, a minha raiz partiu-se.
fui arrancada
da terra fértil
e
a praia deserta
mingou
para o meu grito
e eu abracei-me
pensando
que ainda te tinha
* mães
são contos de fada
são primaveras
são sonhos
são quimeras
são a mão certa
num bolo repartido
são a firmeza médica
num joelho ferido
são porto de abrigo
em hora de aflição
são as lágrimas enxutas
num xi-coração
Ana Oliveira
Mãe - Isabel Rosete
Maria Cândida Rosete,
Falecida a 9 de Abril de 2003
Minha querida Mãe,
Como te amo
Mesmo depois de morta
Na tua talha de sofrimento e dor
Que ainda te persegue
Como em vida.
Ai, essa tua pobre vida
Que não passou de sobrevivência!
Sempre espezinhada por muitos
Que te chamavam “louca”,
Porque sempre vias mais além
Do que todos os outros!
Nunca foste aceite
Pela tua diferença
Pela tua especificidade…
Tão única
Tão gloriosa…
Aos meus olhos
Nunca inocentes
Perante ti.
Os teus actos
Mesmo os aparentemente mais despropositados,
Sempre tiveram um real e lógico sentido
Que nem sempre soube entender!
Só mais tarde o atingi
Quando a vida também me mostrou,
No corpo e na alma,
Esse sofrimento de que padecias.
Morreste
Tão frágil
Tão débil
Tão diluída…
Nos meus braços
Que ainda te sentem!
Agora sei quem foste!
Agora sei porque lutaste!
Agora sei porque a vida não te sorriu
E a penas te presenteou
Com escassos momentos de felicidade!
Bem-hajas,
Minha querida mãe!
Não sei ode estás!
Não sei se ainda me sentes
Se ainda me ouves
Ou se ainda me vês…!
Mas sei que estás comigo,
Sempre,
E eu contigo!
Isabel Rosete
Nada, nem mesmo a chuva - J.T. Parreira
«Nobody, not even the rain, has such small hands »
e.e.cummings
Nada, nem mesmo a chuva
tem tão pequenas gotas
como as lágrimas que se movem
dentro do coração.
E as pequenas mãos
que sobem pelo rosto
das mães? Ninguém
como elas tem a chave
para tão pequenas nuvens.
Ninguém, nem mesmo o silêncio
tem tão pequenas mãos
para abrir tão fechado
domínio.
J.T.Parreira
Mãe - Orlando Jorge Figueiredo
o teu olhar
mãe
era novembro
senti o teu calor
que frio
estava esse dia
mãe
que quente
estava esse dia
mãe
era novembro
era Sol
era Luz
no teu olhar
mãe
orlando jorge Figueiredo
Mãe - Emanuel Naia Sardo
Como é possível que uma palavra tão pequena
englobe tudo aquilo que o Homem necessita
para se poder realizar como ser?
Já na gestação ela quase que só vive para o seu menino(a).
Após o parto ei-la a ter todas as atenções para o ser que acaba de dar à luz.
Durante a infância e puberdade é ela que invariavelmente trata com desvelo
o rebento que floriu lá dentro, no seu interior.
Mãe, palavra demasiado grande para tão poucas letras.
Quando estamos doentes, quando temos sobressaltos na vida,
quando precisamos de um ombro amigo para confidenciar,
lá está ela, sempre disponível para curar, para ouvir, para ajudar
e para que, com a experiência que a universidade da vida
lhe proporcionou dar os conselhos necessários para
ultrapassar os problemas.
Mãe...
Já velhinha e depois de uma vida sempre disponível
volta a ter à sua volta os rebentos dos seus filhos.
Continua a ser útil (e cada vez mais!)
a sua presença junto dos seus netos.
Mãe!!!
Palavra cheia de um significado que ultrapassa
a definição de um qualquer dicionário.
Tu, minha mãe, foste tudo para mim.
Incutiste-me o amor pelos outros e pela mãe natureza.
Explicaste-me que todos somos irmãos,
que os animais, as plantas e todos os seres viventes
têm no mundo o seu lugar.
Tinhas o curso da vida.
Deste-me as lições necessárias
para eu ser aquilo que sou.
Já partiste para onde um dia também irei
Continua "lá"
a fazer o que fazias cá.
Obrigado, minha mãe.
Naia Sardo
Mãe - Lurdes Breda
MÃE
Há quanto tempo não tens um carinho?
Uma palavra de amor, um beijo, uma rosa?
Tu, que não tiveste tempo para ser menina...
Trocaram a tua boneca de trapos sujos pela escravidão da enxada.
Puseram-te num campo onde cavaste as tuas próprias trincheiras,
defendendo-te de inimigos que não divisavas.
Em cada jornada, vencias a fome com o suor do teu rosto moreno.
Saciava-la com as lágrimas traiçoeiras, que choravas, furtiva,
disfarçada no escuro.
Mas também sonhaste... Os teus sonhos inocentes,
de criança prisioneira, pediam-te liberdade e,
vezes sem conta, voavas para longe.
Vinha, então, o teu carrasco de voz irada
e cortava as asas com que fugias.
Eras mulher num corpo gaiato e aceitavas, resignada,
a tua sorte, porque assim tinha de ser.
Palmilhavas caminhos sinuosos com os pés nus, sangrando.
Mas, nas mãos, levavas o Sol e o gume cortante da foice
com que ceifavas o trigo.
Quando ias à escola, um carrasco ainda pior sentenciava-te
duros castigos, porque ingenuamente erravas o á-bê-cê!
Era outra a cartilha em que aprendias...
Num mundo feito de amargura,
onde a sombra da miséria era o pão de cada dia,
lutavas como a flor no prado.
Resistindo sempre às tempestades
e não te contaminando de amargura.
Se deixaste cair algumas pétalas no longo labirinto,
cresceste generosa e altruísta.
E transformaste-te numa linda mulher
que frutificou e sabe amar...
Amando até aquele campo que, antes,
te parecia uma pesada pena.
Hoje, com infinitas atenções,
lanças-lhe sementes de vida, como as que tu mesma geraste.
Eu sou um rebento de ti, a minha força é o teu sangue,
o meu coração bate pelo teu.
No entanto, são incontáveis as noites
em que te roubei o sono e te dividiste em mil cuidados...
Do trabalho dos teus braços nasce a abundância do nosso pão,
Que tantas vezes, em silêncio, tiraste da tua boca...
Tens sempre um sorriso para curar as minhas dores.
Os teus olhos, cansados, contam-me madrigais de papoilas
e o teu corpo ondula, como seara madura, na brisa do poente.
As tuas mãos calejadas são o livro mais belo
que alguma vez foi escrito!
Nelas leio, sem vergonha,
a tua história humilde, na qual me ensinas a ser honesta e fraterna.
Mãe, no meu beijo, ofereço-te um milhão de rosas!
Lurdes Breda
in "Asas de vento e sal" 2005
Tema semanal - Mãe
Nos próximos post podem desfrutar de alguns poemas dos membros do GPA.
Saudações poéticas,
Rita Capucho
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
O natal real - Ana Oliveira
* o natal real
(ou...nalaliCIDADES)
quantos são?
cai a noite
e na calçada se faz cama
______faltou a oportunidade
______faltou o emprego
______surgiu a meia idade
são nacionais e estrangeiros.
imigrantes de leste
e de outro hemisfério
são milhares
difícil é não os ver
aproximam-se
das padarias
e similares
, aquecem-se
, esquecem-se
é o mundo do olhar
_______vazio
de caixotes e cartões
procuram a carrinha
- pelo alimento
- pela conversa.
durante o dia
são olhados de viés.
__________ali
, recebem sopa
, cobertores
e abraços.
carentes de laços
carentes de calor
é o paralelo natal
num mundo real.
Ana Oliveira
Natal - Madalena Oliveira
NATAL
Natal de embrulhos, papel dourado,
Laço de seda vermelho entrelaçado.
Ouro, prata, vermelhos cores quentes
De amores… às vezes presentes…
Quase sempre ausentes…
Mas comprados
Com dinheiros avultados
De gente rica,
Não menos aflita
Que o pobre que grita
Por pão.
Há quem grite
À injustiça não
Neste meu país
Onde a fome é o grilhão
Que consome o coração
Dos que não têm pão.
Dos que vêem a razão.
Dos que dizem NÃO!
Neste meu desditoso país,
Há tanto faminto que o não diz…
E entre o que grita e o que não diz,
Há mil pobres que propiciam a um rico
Um Natal feliz!
Madalena Oliveira
Natal - Naia Sardo
NATAL
A palavra em si encerra algo que, normalmente,
significaria paz e harmonia.
Mas onde existe paz e harmonia num mundo tão conturbado?
Onde é que o homem olha para o seu semelhante
de outras raças, credos e "castas" sociais no mesmo horizonte visual?
Deixemo-nos de hipocrisias e olhemos para o nosso lado.
Neste país à beira-mar plantado
existe uma nova classe de deserdados.
Uma grande maioria deles deambula no meio da multidão
em busca de algo que perdeu e não sabe como recuperar.
Batem a todas as portas e a sua grande maioria não procura emprego:
querem trabalho.
A "crise", que parece não ser para todos, vai sendo a palavra mágica
que, muito delicadamente, serve para dizer não.
O período que deveria ser de festa e alegria está transformado em dor e sofrimento
para tantos homens e mulheres que vêem os seus familiares directos
privados de tudo aquilo a que estavam habituados no antanho.
Natal! Tempo de paz e alegria...
Pois sim... mas não para todos.
Oh, Jesus, se tu cá voltasses!!!
Naia Sardo (2009/12/14)
Que criança regressa agora a Belém - J.T. Parreira
Que criança regressa agora a Belém
Que criança regressa agora
a Belém para nascer?
Hoje há um avião
que bate nos arcanos do tempo
Um carro de combate
que procura na peça o ponto
onde começa o homem, uma casa
fechada atrás de sulcos
na parede, há novelos de arame farpado
para enredar os pés, as estrelas
procuram-se
com olhos cabisbaixos
Que criança força hoje
o recolher obrigatório?
E vem nascer em Belém
num leito aonde os animais
vêm deitar
no feno as suas bocas
e o silêncio das línguas.
J.T.Parreira
Rei Mouro - Ana Paula Mabrouk
Rei Mouro
Num país à beira-mar plantado
Começa uma história banal
No centro de uma grande cidade
Em plena época de Natal.
Trata-se de um presépio vivo
De três pessoas composto
De um pequeno rei negro
concebido bem a gosto.
Mares e oceanos cruzaram
Engoliram fome e fel
Montando finalmente tenda
Em terras de leite e mel.
O pai, carpinteiro de profissão,
Ou não estivéssemos no Natal
Cedo encontrou nesta Babilónia
Torre na qual trabalhar.
Era um futuro centro comercial
Onde gambiarras de mil cores
Prometiam a felicidade eterna
Aos potenciais compradores.
Nem sequer imaginavam
Que a viga de madeira sustenta
O fruto do trabalho árduo
Que a loja de marca ostenta.
A Mãe, de seu nome Maria
Vive num palácio urbano decorado
De zinco, plástico e tijolo
Juntinha do seu bem amado.
Apenas as seringas espalhadas
Em volta do seu exíguo estendal
Entre linguajares desconhecidos
Lhe lembram a face do mal.
Vive entre o medo de regressar
E a esperança secreta de permanecer
Da terra natal as saudades
Os sonhos na terra do renascer.
É rainha mãe de um monarca
Promessa de um futuro melhor
Não é Jesus de Belém
Mas noutro deixará sua cor.
É já final de dia invernoso
Quando o sol abraça o mar
À porta assoma a mãe aflita
Em plenos pulmões a gritar.
É a cultura crioula que afirma
Que só há um modo de parir
Das veias de sangue quente
Voz alta terá que se ouvir.
Uma vizinha em socorro acode
Depressa um carro ao hospital!
Não posso, chora a pobre Maria
Aqui não sou mãe: sou ilegal!
Mulher, deixa lá isso agora
Teu filho merece o melhor
Vais dar o nome de Aurora
Mulher de meu irmão Belchior.
Lá foram as duas vizinhas
Num chasso velho a gemer.
Não sei quem gemia mais alto:
Se o carro ou se a mulher...
Pela primeira vez na vida
Maria está deveras assustada
Não tem ninguém a seu lado
Nem mãe, marido ou cunhada.
Petrov Kaspar, ao seu serviço
Vamos lá tirar esse rapaz
Há-de ser um homem forte
Saudável, inteligente e sagaz.
Entre gritos lancinantes
De qualquer um arrepiar
Sem folha de bananeira
Faz ela um último esgar.
Já cá fora o garoto
São e escorreito, garante
O médico russo a sorrir
À cabo-verdiana diletante.
Avisem o Sr. Baltasar
Patrão do Zé carpinteiro
Que este já cá tem um filho
Com carapinha e sem dinheiro.
Cabelos louros não tem
Nem mirra, incenso ou ouro
Mas tenho a certeza que vem
Ao mundo em versão de rei mouro.
Não sei se fábula será
Esta minha história banal
Só sei que aconteceu um dia
Quase em vésperas de Natal.
Ana Paula Mabrouk
- Na tal- Ulisses
- Na tal -
uma estrela, tão grande como um satélite que volta à terra.
caiu nesse dia.
as pessoas assustadas foram a correr ver. era um menino
que chamara aquele monstro brilhante a cair no chão.
um menino poderoso, com mãos como espelhos e um
coração que curava as almas.
uma estrela caiu, enlaçou-se na sua coxa direita. deram-lhe,
novidades, cães ciborgues, plasma para formar planetas, deram-lhe
combustível eterno, deram-lhe estrelas e um cosmos feito de pessoas
que lhe serviriam, como a um deus, a um barão. rei.
era um menino poderoso. nasceu sábio! nasceu sabendo.
era um menino poderoso, que pediu apenas conchinhas
para chupar. brincar, decorar, partir.
(essa estrela volta todos os anos aos céus e volta a cair.)
o menino nunca quis nada, passeava-se só com um trapo
com um pente e com óleo de azeite. esse menino quis
que nós víssemos dentro de nós. a igualdade.
os nossos corações viram apenas
a nossa mesmice. um lagarto sangrando.
-esse menino desistiu e deixou que o mundo
o tortura-se.-
(todos os anos meu filho. nós, celebramos o seu
nascer, o seu sofrer, o seu morrer. o seu amar.)
e esse menino ?
esse menino que nunca mais, quis voltar.
.ULISSES.